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Chá com poesia - Dia dos Pais

 Hoje no Chá com Poesia é oferecido ao leitor três poemas belos, dóceis, e inspiradores; não por acaso, escolhidos para o dia de hoje. Hoje, no segundo domingo de agosto, é  dia não apenas de fazer a ligação, entregar presentes, mandar mensagem, ou fazer surpresas, é dia de reforçar aquele amor... Aquele que brota ao primeiro olhar, ao primeiro abraço, é aquele amor... paterno! Três poemas para refletir, amar e recitar... Feliz Dia dos Pais!


Ser Pai


Ser pai
é acima de tudo, não esperar recompensas.
Mas ficar feliz caso e quando cheguem.
É saber fazer o necessário por cima e por dentro da incompreensão. 
É aprender a tolerância com os demais e exercitar a dura intolerância
(mas compreensão) com os próprios erros.

Ser pai
é aprender errando, a hora de falar e de calar. 
É contentar-se em ser reserva, coadjuvante,
deixado para depois. Mas jamais falar no momento preciso. 
É ter a coragem de ir adiante, tanto para a vida quanto para a morte.
É viver as fraquezas que depois corrigirá no filho, fazendo-se forte em
nome dele e de tudo o que terá de viver para compreender e enfrentar.
Ser pai
é aprender a ser contestado mesmo quando no auge da lucidez. É esperar.
É saber que experiência só adianta para quem a tem, e só se tem vivendo. 
Portanto, é aguentar a dor de ver os filhos passarem 
pelos sofrimentos necessários, 
buscando protegê-los sem que percebam,
para que consigam descobrir os próprios caminhos.
Ser pai
é saber e calar. Fazer e guardar. Dizer e não insistir. 
Falar e dizer. Dosar e controlar-se. Dirigir sem demonstrar. 
É ver dor, sofrimento, vício, queda e tocaia, jamais transferindo aos filhos o que,
a alma, lhe corrói. Ser pai é ser bom sem ser fraco. É jamais transferir aos filhos 
a quota de sua imperfeição, o seu lado fraco, desvalido e órfão.

Ser pai
é aprender a ser ultrapassado, mesmo lutando para se renovar. 
É compreender sem  demonstrar, e esperar o tempo de colher, 
ainda que não seja em vida. 
Ser pai é aprender a sufocar a necessidade de afago e compreensão. 
Mas ir às lágrimas quando chegam.

Ser pai
é saber ir-se apagando à medida em que mais nítido 
se faz na personalidade do filho,
sempre como influência, jamais como imposição. 
É saber ser herói na infância, exemplo na juventude
e amizade na idade adulta do filho.
É saber brincar e zangar-se. É formar sem modelar, ajudar sem cobrar, 
ensinar sem o demonstrar, sofrer sem contagiar, amar sem receber.

Ser pai
é saber receber raiva, incompreensão, antagonismo, atraso mental, inveja, 
projeção de  sentimentos negativos, ódios passageiros, revolta, desilusão 
e a tudo responder com capacidade de prosseguir sem ofender; 
de insistir sem mediação, certeza, porto, balanço, arrimo, ponte, 
mão que abre a gaiola, amor que não prende, fundamento, enigma, pacificação.

Ser pai
é atingir o máximo de angústia no máximo de silêncio. 
O máximo de convivência no máximo de solidão. 
É, enfim, colher a vitória exatamente quando percebe que o filho 
a quem ajudou a crescer já, dele, não necessita para viver. 
É quem se anula na obra que realizou e sorri, sereno, 
por tudo haver feito para deixar de ser importante.

Artur da Távola








Pai


Pai, olho tuas mãos,
Elas são importantes na construção de teus filhos;
Que elas saibam ser firmes no orientar,
Serenas no amparar;
Que elas não fujam ao dever de punir,
E não se aviltem por agredir...

Tuas mãos, pai,
Devem ser o exemplo do teu trabalho
E que não se abram apenas materialmente,
Que isso é um modo de fechar a consciência,
Mas que, ao abri-las estejas abrindo muito mais
O teu coração e a tua compreensão...

Teus olhos, pai, que responsabilidade eles têm,
Que eles vejam as qualidades de teus filhos,
Por pequenas que sejam, para que as faças crescer,
Mas que não deixem de ver os defeitos e as falhas,
Porque pode ser teu o dever de corrigi-las...

Não te consideres, pai, sem defeitos,
Mas que isso não te desobrigues
Da perfeição de ensinares o que sabes certo,
Ainda que tu mesmo tenhas dificuldade em segui-lo,
Mais importante do que consegui-lo,
Sem dúvida será lutar por ele.

Pai, o que se quer de ti,
É que pai sejas,
No conceber por amor,
No receber por amor,
No renunciar por amor,
No amor total dos filhos que,
sem teu amor,
perderão o significado da própria vida.

Pai, estás presente no sangue,
Na herança biológica,
Na cor, no nome, na língua,
Tudo isso, porém, desaparecerá
Senão te fizeres presente no coração.


Autor Desconhecido






As mãos do meu Pai


As tuas mãos tem grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já cor de terra
— como são belas as tuas mãos —
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram
na nobre cólera dos justos...
Porque há nas tuas mãos, meu velho pai,
essa beleza que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam
nos braços da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas...
Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente,
vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra o vento?
ah, como os fizeste arder, fulgir,
com o milagre das tuas mãos.
E é, ainda, a vida
que transfigura das tuas mãos nodosas...
essa chama de vida — que transcende a própria vida...
e que os Anjos, um dia, chamarão de alma...

Mário Quintana






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