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O Mercador de Veneza - Shakespeare



Nem que eu usasse todos os adjetivos da língua portuguesa eu não conseguiria descrever a grandiosidade das obras shakespearianas, O Mercador de Veneza não é exceção; afinal, Shakespeare é Shakespeare. Vamos à obra! 
  Quando a li, estava relendo Romeu e Julieta, ou seja, as duas leituras estavam sendo apreciadas ao mesmo tempo. Entretanto, como já conhecia a história de Romeu e Julieta (há alguém que não conheça?) a minha curiosidade era redobrada para O Mercador de Veneza. E se eu tivesse que usar uma palavra para definir esse livro seria: REFLEXÃO.
 Os livros do escritor inglês são fontes de muito conhecimento e ideias inspiradoras, mas hoje aqui, no Mosaico de Livro quero trabalhar uma especial com vocês: JUSTIÇA.
 Vou dar-lhes uma breve apresentação da história.
 Antônio, um mercador de Veneza (?) é o "avalista" de Bassânio em um empréstimo de dinheiro para que este pudesse se casar com Pórcia, uma rica herdeira. O dinheiro é emprestado por Shylock, um mercador judeu. A história é recheada de muitos outros detalhes interessantíssimos, mas vou me limitar a esses para não estragar muito a história de um futuro leitor. 
 O judeu estipula um prazo para que Bassânio pague a dívida, caso não seja atendido a recompensa será uma libra de carne de Antônio. Essa recompensa é baseada em um ódio que um nutre pelo outro, afinal, o que uma pessoa teria a ganhar com uma libra de carne humana?  Muito sinistro, não?
Bassânio consegue o casamento com Pórcia, entretanto, não antes do prazo dado por Shylock, fazendo então com que o mercador pedisse a prisão de Antônio, para que pudesse posteriormente cobrar a libra de carne. 
O caso vai à justiça, e no ápice do julgamento quando os leitores já julgam o ato consumado eis que surge... Pórcia! Não como a herdeira bela, rica e noiva de Bassânio. Ela agora está transfigurada em um homem que jugará o caso. O que a faz tomar tal atitude é o fato de Antônio não ser apenas o avalista de seu noivo, mas também o melhor amigo. O amor que ela sentia pelo o noivo a fez tomar uma atitude que salvaria uma pessoa estimada por ele. E ela fez, fez muito bem feito.
 Novamente me limitarei em dar mais detalhes. Vocês terão que ir atras de Pórcia nos livros, e valerá a pena. Descobrirão até mesmo a relação de Mercador de Veneza com O Auto da Compadecida.
Nessa altura do campeonato, ela é a idealização da mulher perfeita; sua inteligencia é inquestionável.  
Agora vamos nos empenhar diretamente nas noções de justiça da trama, que sob meu ver, mostrando a relação entre política e religião se torna o ponto mais reflexivo da história. Let's go!
Partiremos de duas noções de justiça na história: a do judeu, e a de Pórcia. Para compreender melhor segue abaixo um trecho do julgamento:

"A qualidade da clemência é que ela não seja forçada; cai como a doce chuva do céu sobre o chão que está debaixo dele; é duas vezes bendita; bendiz ao que a concede e ao que a recebe. É o que há de mais poderoso naquele que é todo-poderoso; assenta-se melhor do que a coroa no monarca sentado ao trono; o cetro bem pode mostrar a força do poder temporal; o atributo da majestade e do respeito que faz os reis temerem e tremerem. Porém, a clemência está acima da autoridade; tem seu trono nos corações dos reis, é um atributo do próprio Deus e o poder terrestre se aproxima tanto quanto possível do poder de Deus, quando a clemência tempera a justiça... Rogamos para solicitar clemência a este mesmo rogo, mediante o qual a solicitamos, a todos ensina que devemos mostrar-nos clementes para com nós mesmos."

 Um fato importante para compreender o que irei propor a seguir é o papel da religião na época. Lembrando que Shakespeare era do século XVI, nesse período a Europa passava por um momento de transformações provocado pelo fim da Idade Média. A contraposição do  catolicismo com o judaísmo era, no entanto, bastante vigente no cotidiano. Por um lado temos a justiça estrita firmada por um judeu; por outro, uma "maleável" defendida por católicos. 
 Shylock crê de que a justiça deve ser realizada com extremo rigor e sem flexibilidade. Para Pórcia, ela deve basear-se na integridade acompanhada de ponderamento. No tribunal, ele não desiste de sua ambição firmada em  um ódio religioso, exigindo a sentença do juiz. Pórcia, disfarçada com trajes masculinos tenta remediar a situação, propondo até mesmo que Bassânio pague o dobro da divida, não move o firmamento da decisão do cobrador. Como lido no parágrafo, Pórcia se apoia na justiça vinculada à clemência, argumentando que "nenhum de nós encontrará a salvação com a estrita justiça", indo de encontro à Shylock. 
Em um mundo dos séculos finais da Idade Média e inicio da Idade Moderna notamos com essa obra que a justiça trabalhava em conjunto com os interesses religiosos; mesmo se divergindo entre as distintas ideias das diversas religiões.

 O livro está disponível gratuitamente em forma de PDF na internet, mas você poderá comprar o físico em qualquer livraria. A leitura de um livro jamais poderá ser subjugada à uma sessão de um filme, mesmo este contando com um excelente elenco; mas para os interessados há uma adaptação contanto com a presença de Al Pacino, Jeremy Irons, Joseph Fiennes e Lynn Collins pela direção de Michael Radford. 
Espero que tenham gostados, até a próxima!

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